Uma questão de ônibus



Era uma tarde de outubro de 2009. Estava indo de casa para o escritório da ALIANÇA. Depois de passar pelo menos 10 minutos até chegar na Av. Epitácio Pessoa, fiquei, como sempre, exausta daquele sol escaldante das 13h30. Sempre pego ônibus lá, porque se tiver que esperar o Torre/Tambauzinho, linha 402, eu morro, sou assaltada, esquartejada, ninguém vê e o ônibus não passa... O Torre passa logo na esquina de casa, mas vai confiar na parada de ônibus que tu morre em pé. 

No ano passado, minha irmã fez uma excelente compra: um celular que só faltava dançar sozinho. Digo sozinho porque se o colocássemos de pé em cima da mesa, ele se tremia todo e não caía (como gente que usa ecstazy nas boates). Pretinho, lindinho e carinho... Até que em uma bela manhã, estava lá, a vítima na parada do 402. Esperando o transporte inocentemente para ir ao trabalho. “Passa o celular que está na bolsa”. A frase que nenhum estudante suporta ouvir. “Deixa eu ficar pelo menos com o chip!” Tenta desesperadamente a vítima não perder suas mensagens e seus contatos. “Eu quero saber lá dessa *&¨%$$# desse chip! Eu jogo fora depois!”. E lá se foi o cara na bicicleta vermelha com o celular pretinho, lindinho, carinho e que dançava também...

Enfim, isso tudo só para dizer o porquê de preferir ir para a Epitácio Pessoa ao invés de esperar confortavelmente o 402, que sempre vem vaguinho, na esquina lá de casa. Chegando na Epitácio, pego qualquer ônibus que me leve para o escritório. Mas naquela tarde de outubro aconteceu um negócio engraçado...

Estava na parada de ônibus, na movimentada Epitácio, com muitas outras pessoas por perto. Um casal de maltrapilhos, cambaleando, se aproxima de nós. Magros, não apenas magros, muito magros. Roupas sujas e rasgadas. Eles não tinham nem cor! Estavam tão imundos que tinham aquela coloração cinza! “Sai prá lá #$%¨&! Vai #$%¨& em cima de outra pessoa!”. A mulher falava assim com o cara... Chegou um ônibus, mas não passava no escritório, permaneci parada. O casal tenta subir... Ela vai na frente e o cara atrás dela. “Desce, desce!”, reclama o cobrador. “Seu @$#%¨%$!!!!”, retruca a mulher. Mas ela não parecia bêbada. Quem estava embriagado era ele, porém ela parecia louca.

Os dois descem os degraus do ônibus à força, porque não passaram da catraca. Chega o próximo ônibus. “É o meu!” Fiquei feliz porque ia sair de perto deles! Não por serem maltrapilhos, mas por serem loucos! No meu pensamento fiquei: “Ai, meu Deus que não subam atrás de mim! Ela vai me bater!”. Entrei rapidamente no ônibus, mostrei que era cartão de estudante. O cobrador tava praticamente dormindo! Bati com força o cartão na mesa dele. Ele “acorda” e libera a catraca. “Ufa, passei!”. É que era um daqueles ônibus que se entra por trás e que antes da catraca ainda tem espaço para passageiros sentarem.

Mas quem estava atrás de mim? A louca! Logo quando passei, me acomodei ao lado de uma jovem, que estava sentada próxima à janela. “Pá!”. Escuto o barulho de várias moedas sendo arremessadas com força na mesa do cobrador. Era a mulher... “Isso aqui não é o suficiente não!”, reclama o cobrador. “Eu vou pegar ônibus sim!!! Seu @#$%¨&!”, grita a louca. “Motorista, pare aí!”, grita o cobrador. Estávamos na frente do supermercado Extra, um vermelhão bem grande que dói a vista, lá na Epitácio. “Vai, desce!”, fala o cobrador para a mulher e para o cara que estava o tempo todo com ela. Ela não queria descer. O cobrador empurra. “Eita, que barraco!”, pensei rindo. “Vai, desce!!!!”, reclama o cobrador. O cara bêbado sai puxando a mulher, os dois quase caem dos degraus do ônibus. O pessoal lá de trás, que estava sentado antes da catraca, começa a rir.

Fiquei lá, quieta, olhando para frente, pois achava que o motorista ia começar a andar. De repente, uma mulher grita lá de trás: “CORRE MOTORIIISTA!!!!!”. Quando olhei para trás, vi a louca sair do canteiro do supermercado Extra com uma pedra enorme na mão! Ela se aproximou para atacar o cobrador! Todo mundo do ônibus neste momento estava virado para trás! Até o motorista! Foram segundos de apreensão! As mulheres lá de trás: “Ai, meu Deus!”. De repente, a louca joga a pedra! Era tão doida, tão doida que mirou o cobrador e acertou na traseira do ônibus! Ninguém se aguentou! Todos começaram a rir! As mulheres que estavam antes da catraca passaram a rir descontroladamente. A moça ao meu lado olha pra mim e diz: “É louca!”. Eu: “Louquinha!”.

Ganhei o dia! Ri o dia todo da situação! Por essas e outras que de vez em quando dá vontade de não parar de andar de Mercedes... 

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