A Classical Academic Press publicou, em 2004, um livro explicativo sobre o que seria “Educação Cristã Clássica”. Chris Perrin, editor da empresa e também autor do livro, estava um pouco cansado de esclarecer o tempo todo sobre o assunto, visto que era diretor de um colégio que segue essa linha pedagógica nos Estados Unidos.
O livro é uma interessante introdução ao assunto – bem introdução
mesmo, tem apenas 80 páginas na edição em Português. A obra foi traduzida e
publicada no Brasil pela editora Trinitas em 2018. O livro vai mostrar a
história da Educação Clássica e seus primórdios na Grécia Antiga. O autor vai
discorrer sobre o conceito de “Paideia” e esclarecer como o Cristianismo se
apropriou dessa forma de educação para beneficiar seus adeptos.
O Trivium e o Quadrivium foram explicados pelo
autor que defende que a verdadeira educação clássica é baseada no primeiro, que
corresponde a Gramática, Lógica e Retórica, pois, para o autor, se o estudante
tiver essa base bem fundamentada, ele consegue, por si só, estudar qualquer
disciplina, em qualquer área de estudo. De acordo com o escritor, é esse tipo
de educação clássica que está sendo resgatada em muitas escolas dos Estados
Unidos e no ensino domiciliar.
Perrin afirma que, da Grécia Antiga até os dias atuais, a
educação clássica evoluiu no mundo mantendo-se alguns temas e padrões, mas não
sem variações significativas. Ele explica que no fim do período medieval, a
educação começou a decair – a famosa Idade das Trevas –, momento que exigiu o
surgimento do Renascimento (1.350-1.600 d.C.). A Reforma Protestante (1.517 – 1.700)
foi um movimento complexo, centrado no avivamento espiritual, mas que, segundo
Perrin “também continha esse elemento de retorno às fontes antigas de
sabedoria, com especial ênfase no retorno à autoridade e ao ensino das
Escrituras” (p. 13). O próximo grande movimento foi o Iluminismo (1.700 – 1.789),
marcado pela renúncia da autoridade das Escrituras, o que levou “à fidelidade
ao poder do intelecto inato do homem”. Discorrendo sobre a Educação Clássica da
Antiga Grécia, Perrin explana:
Seu sistema educacional de fato evoluiu e mudou ao longo do
tempo, mas enfatizando consistentemente a importância da aretê,
ou excelência e realização do indivíduo. A excelência e a destreza do porte
físico eram tão importantes (isso se não mais) quanto a excelência intelectual.
Crianças gregas de sete a catorze anos iam à palaestra,
onde aprendiam a lutar, e a uma “escola
de música”, onde aprendiam leitura, recitação,
escrita, aritmética e, também, a tocar lira e a cantar (o termo “música”, para
os gregos, possuía um significado muito mais amplo do que o termo “música” e
seu modo de uso hoje). Dos dez aos catorze anos, os alunos continuavam com seu
treinamento físico em um gymnasium,
onde aprendiam luta, boxe, corrida, salto à distância e lançamento de disco e
de dardo. Essas habilidades tinham uma conexão óbvia com o treinamento militar
e com as forças armadas. Dos quinze aos dezoito anos, alguns alunos (do sexo
masculino) privilegiados continuariam seus estudos por meio da observação e
participação da vida cívica e cultural grega, instruídos e preparados por
cidadãos gregos já adultos. Finalmente, alguns jovens, dos
dezoito aos vinte anos, passariam por dois anos de treinamento
militar, o que os tornaria soldados e militares capazes. (PERRIN, p. 15,16).
Martinho Lutero e João Calvino abriram escolas que enfatizavam
a educação clássica. Os reformadores, em geral, ressaltavam a importância de
criar uma igreja alfabetizada e instruída que, inclusive, poderia ler as
Escrituras em suas línguas originais.
O afastamento da educação clássica teve início por volta do
século XIX, com pensamento de educadores que quiseram modernizar a educação
para que ela se adequasse à nova realidade advinda da Revolução Industrial. Essa
“nova educação”, chamada de educação progressista, dava ênfase ao “aprender
fazendo” e, a partir de então, a educação passou a ser vista como “treinamento
para vocação profissional”, retirando todo aspecto transcendental da educação.
Os conceitos de “beleza, bondade e verdade” – tripé platonista que é foi a base
da educação clássica grega – foi rejeitado.
“...a alfabetização baseada no método fônico e na
decodificação foi substituída por uma abordagem “holística” ou globalista de
ler instruções; a instrução em lógica e dialética foi substituída por
autoexpressão sem crítica; o ensino da escrita guiada pela imitação dos mestres
e da prática frequente foi substituído por abordagens mais individualistas,
criativas e com pouca prática; o ensino de matemática, antes marcado pela
constante repetição de exercícios e prática, foi substituído por um currículo
contendo pouca prática, poucos exercícios e mais atividades e histórias
relacionadas à matéria; o ensino de história, que era fundamentado e louvado na
tradição ocidental da qual os EUA emergiram, foi substituído gradativamente por
uma abordagem multicultural de diminuir a importância da história europeia e
americana, substituindo ambas por um apanhado raso da história do mundo”.
(PERRIN, p. 27).
A destruição das verdades universais, o ceticismo filosófico, a rejeição de todo ponto de vista cristão e a introdução do igualitarismo – doutrina que nega qualquer tipo de superioridade (o que faz sentido quando não há padrões universais) – dominam as salas de aula e o pensamento da sociedade moderna. A autoridade dos pais, antes vistos como principais meios pelos quais a educação deve acontecer, foi diminuída ao ponto de não serem mais benquistos na grande maioria das escolas, principalmente nas públicas. O experimento moderno na educação tem cerca de 100 anos.
Depois da elucidação histórica,
Perrin vai explicar o Trivium como fases do desenvolvimento da criança e
vai defender o ensino do Latim e do Grego que muito beneficiam quem os estuda. No
colégio onde é diretor, o Latim é apresentado pela primeira vez a crianças de 8
anos de idade. Ele alega que estudantes alfabetizados pelo método clássico se
saem entre 10% e 15% melhores em concursos e nas Universidades do que alunos de
outros métodos pedagógicos. Ele lembra que escritores como Tolkien, Lewis e
grandes políticos como Abraham Lincoln foram educados no método clássico.
O escritor explica também que, no método clássico, a educação é
vista como uma rede, e não separada em departamentos. Todas as matérias estão
relacionadas. Literatura, história e teologia estão intrinsecamente entrelaçadas
porque qualquer coisa do passado em qualquer matéria é história; qualquer coisa
comprometida com escrita criativa é literatura; e qualquer uma que fale sobre Deus
e Bíblia é teologia. “Até o século XIX, os educadores entenderam e ensinaram o
conhecimento enquanto rede, e não como departamentos separados” (p. 42).
Para os educadores clássicos, os alunos que dominaram a
gramática e o vocabulário, o raciocínio lógico e o discurso e a escrita
persuasivos e eloquentes (ou seja, o Trivium) possuem as ferramentas
necessárias para estudar e dominar qualquer assunto. “Estão prontos para a
universidade e para a vida” (p. 49).
A Educação Cristã Clássica se diferencia da somente “Clássica”
por mostrar Cristo aos alunos em absolutamente todas as matérias, todos os
assuntos. “Até cem anos atrás, os
cristãos estavam na vanguarda de todas as instituições culturais, moldando a
área da política, negócios, filosofia, ciências, literatura, música e arte. As
razões para o declínio da influência cristã são complexas e variadas, mas a
abdicação de cristãos no campo da educação foi contribuição fundamental”,
escreve Perrin. Ele aclara também que a formação do caráter do estudante sempre
foi um dos principais objetivos da Educação Clássica e a educação e o estudo
são parte do discipulado cristão.
Cabe ao cristão perceber que todo conhecimento é, em sentido
último, o conhecimento do próprio Deus, além de uma tentativa de reverter a maldição
e voltar ao Éden, onde poderíamos estar mais perto de Deus ser mais à
semelhança dele. Os cristãos enfrentam abertamente a realidade do pecado na
educação e veem todo o conhecimento como um meio de conhecer a Deus e, assim,
alcançar a “verdadeira virtude”. Nesta perspectiva, portanto, a educação
engloba um contínuo arrependimento e uma guerra espiritual. Desde a queda de
Adão, esta tem sido a tarefa cristã, o que não é diferente no processo educacional.
Os alunos, portanto, precisam de orientação, correção, treinamento e
repreensão, assim como precisam de encorajamento, elogios e louvor. Eles
precisam de discipulado acadêmico. Com este fim em mente, o educador cristão
clássico não pode simplesmente ensinar matérias a indivíduos, mas precisa
lembrar-se de que está ensinando a seres criados à imagem de Deus. (PERRIN,
65).
Acredito que todas os cristãos que têm filhos ainda
na infância deveriam ler este livro para
entender os motivos que levaram ao declínio da educação no mundo e para
compreender a importância da educação na formação cristã deles. Vale muito a
pena a leitura e a edição brasileira tem dicas de livros no final da obra para
quem deseja se aprofundar mais no assunto.
Ficha técnica
Obra: Introdução à Educação Cristã Clássica
Autor: Chris Perrin
Editora: Trinitas
Páginas: 80
Ano: 2018 – edição brasileira
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