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Procuro o que escrever


Tenho que escrever, nem que seja uma besteira. Posso me livrar do facebook, do twitter, do e-mail... Posso até fingir que não tenho trabalho e por uns instantes acreditar que sou livre, eternamente livre dele. Mas não consigo me desvincular do blog. Já tentei fazer greve de blog, já refiz o blog três vezes, tinha um antigo que me desfiz e fiz este. Mas, de fato, não sei o porquê de ser tão difícil dizer não a ele.

Estou aprisionada. Sim, estou! Estou presa, encarcerada. Ele me aprisionou. Contudo, na verdade, sou e estou livre. O que acontece nestes dias – ou naqueles – é que me prendi por pura vontade. Coloquei algemas em meus punhos e escrevo, para sempre escrevo. Não, acho que não... Talvez esteja mentindo. Talvez minha mente tenha me aprisionado a ele. Mas talvez não. Fui eu mesma que me prendi!

Ah! Mas preciso ser ainda mais sincera. Não estou presa ao blog, mas às letras. Quando era criança já descobria em mim esse defeito. Não me livrava de um caderno que transbordava poesia. Escrevia poemas de todas as espécies: desde os que davam glórias a Deus, até as minhas infelicidades de adolescente. Aqueles que davam glórias a Deus eram mais comuns na infância, mas não deixaram de existir na adolescência.

Eu tinha um caso com aquele caderno. Só podia ser isso! Dos meus dez aos catorze anos tive um convívio forte com ele, mas aos quinze, simplesmente o rasguei! Não, não sei por que o rasguei. Até hoje me torturo quando lembro daquela decisão. Atitude estúpida, insensata! Mas talvez não fosse tão insana assim. Talvez eu quisesse me libertar dele! Aquele caderno me aprisionava! Minto. Não era o caderno que me aprisionava, mas eram as letras!

Fui a primeira a terminar a cartilha na alfabetização. Mas não foi daí que elas passaram a me atormentar. Foi um pouco antes... (Neste momento imagine as nuvens, aquela fumaça que encobre o momento para alcançar um passado. Mas não vá muito longe, é um passado perto – perto da alfabetização, claro). Antes daquilo, as letras já me perturbavam em casa. Ganhei o livro “O rato roeu a roupa” – diga-se de passagem, ainda é editado e com a mesma capa! – e fiquei passando as páginas. Minha mãe leu para mim aquela história. Voltei todas as páginas. Comecei a querer saber ler, e ela me ensinava. 

As letras começaram a me perseguir dia e noite. Não parava de escrever. Estava na primeira série do primário, e minha professora Socorro dizia que eu ia ser escritora. Elas me perseguiam! Juro, elas me perseguiam! Na quarta série eu era muito elogiada pelos meus textos e poemas. Eu amava aqueles elogios e me sentia cada vez mais presa – a elas, não a eles! Será que estou mentindo? Estava presa a elas ou a eles? Não sei, não me lembro...

Anos depois, no último ano do Ensino Fundamental, outra professora amava meus textos. Gostava dos poemas e dizia: “Você vai ser escritora?”. Quer dizer, ela não dizia. Acho que estou inventando. Mas ela disse nitidamente que eu havia vencido o concurso de poesias, disso eu me recordo. Mas o olhar dela dizia que eu seria escritora. Não lembro o nome dela, que estupidez a minha! Não lembro o nome da que me fez chorar quando disse que não poderia mais ensinar naquele colégio. Só recordo seu rosto, seu sorriso e seus cabelos.

Eu não sei o que me deu ao entrar na graduação de Comunicação... Eu não gostava de me comunicar, aliás, eu detestava. Mas eu pensava que só iria escrever e escrever. Ledo engano. Como pude ser tão inocente! Mas sobre isso não desejo falar agora. A problemática é apenas uma neste momento: a prisão. Eu não sei por qual motivo não me livro delas! Elas não me dão sossego nem para dormir. Quando não são elas, são eles – os livros. Eu sonho com as histórias dos livros e na maioria das vezes, deleito-me. Mas por quê?

Acabei de ler “Memórias do Subsolo”, mas não quis escrever como ele. Dostoiévski é inimitável, mas acho que queria imitá-lo. Não, na verdade não queria. Queria ser ele! Não, também não queria. Ele sofreu demais na vida, mas são as letras dele que me perseguem! Ou será a mente dele? Por que ele dentre tantos? Na verdade eu sei o porquê. Vou contar, mas é segredo nosso. É que essa prisioneira se identifica com a mente dele, a mente! Não que pense do jeito dele, mas no emocional são idênticos. Eis o mistério.

Mas, voltando, tenho que escrever nem que seja uma besteira. Só não sei o quê. Estou procurando ainda o que escrever. Mas agora já é tarde. O texto já está grande. Amanhã escrevo.

Comentários

  1. Olá! Que texto gostoso! Sorri muito aqui...

    "Estava presa a elas ou a eles?" ^^
    Os elogios - descobrir que fazemos algo muito bem - também são um baita incentivo, não se pode negar...

    Estou apenas um pouquinho presa... Na verdade, durante a fase adulta, desenvolvi um pouco de medo de escrever. Mas estou redescobrindo que também sou capaz! Aliás, também criei um blog para me expressar. Me inspirei também aqui no seu cantinho. Ficarei feliz com sua visita!

    sonhos-e-suspiros.blogspot.com.br

    Não deixe de escrever, Caline! Não só as resenhas, mas as "besteiras" também!

    Abraços!

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