A sogra que toda nora gostaria de ter e a nora que toda sogra amaria conviver – Considerações sobre Noemi e Rute

Como neste ano de 2021 tenho a meta de ler a Bíblia completa estudando e fazendo resumo dela, é provável que não lerei nenhum outro livro até o final de setembro, como está no planejamento. Por isso, resolvi escrever algumas considerações sobre quase todos os livros bíblico que li. Não são estudos teológicos, são apenas considerações. [TEXTO 3]

Para podermos entender o que levou uma família que temia ao Senhor, da tribo de Judá, a ir embora da terra prometida e morar na terra dos moabitas, é necessário primeiro compreender o que acontecia em Canaã na época dos juízes. A história do livro de Rute se passa depois da morte de Josué, quando juízes julgavam os filhos de Deus contra seus inimigos. Acredito que a história de Rute aconteceu logo no começo da era dos juízes, já que lá na frente a gente vai perceber que Rute se casa com Boaz que, segundo a genealogia de Cristo descrita em Mateus 1, é filho de Raabe, aquela prostituta que salvou os espias na segunda grande vitória do povo de Israel debaixo da mão de Josué (Josué 2 e 6.22-25).

A verdade é que Deus já havia dito a Moisés, pouco antes de ele falecer, que o povo iria se prostituir com outros deuses tão logo após o falecimento dele (Deuteronômio 31.16). Realmente, ainda na época de Josué, o povo já estava enlaçado pelos ídolos daqueles povos da terra de Canaã, pois as tribos, em desobediência ao Senhor, não eliminaram todos os moradores daquela região, passando a conviver com eles. Tudo o que Deus havia dito que aconteceria, caso eles não expulsassem os moradores, acabou acontecendo (Josué 23 e 24, Deuteronômio 31.24-29).

É bem provável que por causa das invasões sofridas pelas tribos de Israel – que sempre aconteciam como punição quando o povo esquecia do Senhor e adorava outros deuses – Elimeleque (que significa “Deus é Rei”), esposo de Noemi, tenha resolvido sair da terra prometida e habitar na região de Moabe. Com eles foram seus dois filhos. Lá, os rapazes se casaram com moabitas. Infelizmente, Noemi achou-se viúva em Moabe e logo em seguida seus dois filhos faleceram, deixando Noemi e suas noras desamparadas.

Havia muito amor na família e conhecimento sobre o Deus de Israel

O livro conta que as duas noras eram muito apegadas à sogra. Elas se amavam verdadeiramente. No entanto, Rute aconselha às duas a voltarem para a casa de seus pais a fim de contraírem novo casamento, já que eram novas e podiam. Orfa, chorando amargamente e beijando Noemi, obedece à ordem e volta para a sua casa. No entanto, Rute deixa sua família e passa a viver com Noemi. O versículo é bem conhecido de muitos cristãos: “Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali posarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rute 1.16).

Podemos perceber que Rute, ainda que moabita, temia ao Deus de Israel. É bem provável que seu falecido sogro, bem como Noemi e seu falecido marido temessem ao Senhor de tal maneira que guardavam os seus preceitos e testemunhavam dEle. Por isso, Noemi, percebendo que o retorno à sua família seria o distanciamento deste Deus, resolve partir com a sogra para a Belém, em Judá, cidade natal de Elimeleque.

E então sucede toda a história de Rute e seu encontro, humanamente falando “casual”, com Boaz. Noemi, sogra que amava a nora, explica que Boaz era o resgatador delas, e conforme o Livro da Lei, era obrigado a pagar o resgate de Noemi e Rute, que ficaram desassistidas com o falecimento de seus maridos. O fato de Noemi lembrar da lei do resgate é mais uma prova de o quanto essa família temia ao Senhor e guardava a sua lei. E, mais uma vez, Rute aprende sobre o Deus de Israel através do ensinamento de sua sogra (Rute 2).

Logo em seguida, percebendo a benevolência de Boaz para com Rute, mesmo sem ele saber ainda que era o seu resgatador, Noemi pensa em uma estratégia para Rute avisar a ele que ele era o seu resgatador. Estratégia que deu certo (Rute 3 e 4). No final das contas, Elimeleque ganha um neto através da lei do resgate. Neto este que viria a ser, mais tarde, o avô do grande rei Davi (Rute 4.22). Obede, o filho de Rute com Boaz, significa “servo do Senhor”. Noemi, amada avó, cuida de seu neto (Rute 4.16) e nunca se apartou de Rute. E o que Rute afirmou lá trás: “O teu povo é o meu povo e o teu Deus é o meu Deus” (Rt. 1.16), como também “Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver” (Rt. 1.17) de fato aconteceu.

Rute era humilde e obediente

A gente percebe também que Rute era uma mulher humilde e submissa à sua sogra. Ela era obediente. Não por ser uma “coitada”, mas por saber que Noemi era sábia e havia sido da sogra que ela tinha aprendido sobre Deus. Veja o que acontece no capítulo 2: Boaz permite a Rute que ela colha milho em sua seara e ordena aos seus servos que não mexam com ela. No entanto, Noemi, preocupando-se com a honra da nora, pede que ela passe a sair para colher somente na área das servas, e Rute obedece à recomendação (Rt. 2.22,23). Ela foi obediente ao fazer tudo conforme a estratégia de Noemi (Rt. 3.6). Foi obediente também quando Noemi pediu a ela para esperar (Rt. 3.18). Noemi foi uma serva do SENHOR usada por Ele, definitivamente. Ela era uma mulher sábia, pois buscava a sua sabedoria na Lei do Senhor.

A história de Rute mostra o quanto Deus é resgatador e salvador de gente de todas as etnias, de pessoas que se chegarem a Ele de todo o coração. Daí o versículo “Deus amou ao mundo de tal maneira” (João 3.16), não porque toda a Humanidade haveria de ser salva, mas porque pessoas de todas as raças estariam debaixo do amor de Deus se elas se voltassem para Ele. A moabita conheceu ao Senhor pelo testemunho da família do seu marido e não se apartou desse Deus mesmo diante da sua viuvez. Rute conhecia ao SENHOR, amava ao SENHOR e se apegou a Ele. Buscou refúgio debaixo das asas dEle, como falou Boaz (Rt. 2.12). Deus não desampara aqueles que buscam refúgio nEle.

Deus foi bondade com Rute através de Boaz quando a permitiu colher espigas, beber água, molhar o alimento no vinho, quando deu ordens para os seus servos não importunarem ela e deu alimento também à sogra dela. Deus foi provisão para Rute e Noemi, Deus foi amor e esperança em meio a tanta tristeza. Deus fez da moabita mulher cuja descendência havia reis. Deus honrou a obediência de Boaz. Deus amou aquela família e aquela família amou ao SENHOR. E, mais uma vez, as promessas do SENHOR a respeito de bênçãos para aqueles que verdadeiramente o amam se cumpriram.

Comentários