Princípios de Interpretação Bíblica

Princípios de Interpretação Bíblica, de Louis Berkhof, é um livro conhecido dos estudantes de teologia brasileiros. Publicado pela primeira vez no Brasil no ano de 2000, a versão que tenho em mãos é a terceira edição, de 2008. Adquiri o livro em 2010, mas somente agora (2023) que percebi que ainda não tinha lido! O livro é uma introdução ao assunto de hermenêutica bíblica e foi escrito para ser estudado por cristãos que estudam a Bíblia em casa como também por alunos de seminários e institutos bíblicos. Como estou fazendo uma pós-graduação pelo Instituto Reformado de São Paulo (em Educação Cristã), e uma das leituras recomendadas é esta obra, resolvi lê-la. Na verdade, o livro dispensa qualquer resenha, sinopse, ou algo do tipo, por ser bastante famoso e recomendado, mas como escrevo porque gosto de ter certeza do que li, vale uma resenha simples.

Gostei muito desse livro porque ele é, de fato, uma introdução ao assunto abordado e o leitor pode perceber várias dicas de interpretação de algumas passagens bíblicas ao longo da leitura. Há vários exercícios no final de cada tema abordado, mas tais atividades nem sempre são possíveis de serem realizadas por alguém como eu que não estudo teologia em seminário, pois há questões cujas respostas não estão no livro – seria necessário um professor para respondê-las. Algumas das respostas encontrei no Google, já outras não achei em nenhum local onde procurei, e outras não entendi as respostas que encontrei. Mas muitas das questões podem ser respondidas usando o próprio livro.

Achei inteligente a estrutura do texto de Berkhof. Ele dividiu o livro em sete unidades contendo capítulos que vão, de certa forma, progredindo na intenção de mostrar ao aluno de hermenêutica princípios de interpretação e o grau de importância e prioridade de cada um deles. Depois do texto introdutório, o teólogo vai discorrer sobre a História dos Princípios Hermenêuticos entre os Judeus palestinos, alexandrinos, caraítas, cabalistas e espanhóis, sendo esta última classe bastante contribuidora com os estudos teológicos da época da Reforma. Naquele período, o conhecimento do hebraico estava quase perdido, mas os judeus espanhóis conseguiram resgatá-lo.

Em seguida, o autor entra na parte histórica da hermenêutica, explicando como se deu no período Patrístico (séculos I a V d.C.) com as escolas de Alexandria, Antioquia e como se dava a exegese ocidental; o período da Idade Média; o período da Reforma, na Renascença (entre os séculos XIV e XVI); o período do Confessionalismo (entre os séculos XVI e XVII) e o período Crítico-Histórico. Depois dessa explanação histórica, Berkhof vai explicar qual é a concepção correta da Bíblia, objeto de estudo da hermenêutica sagrada. Aqui, ele vai discorrer sobre Inspiração Divina; Unidade e diversidade na Bíblia; Unidade no sentido da escrita; o Estilo da Escrita; e o ponto de vista exegético do intérprete – a relação do intérprete com o seu objeto de estudo.

A unidade mais extensa do livro é a quinta, quando o escritor vai oferecer muitas explicações com relação à interpretação gramatical dentro da hermenêutica bíblica. Essa parte necessariamente é um tanto cansativa para leitores comuns como eu. De fato, é uma seção mais interessante para estudantes de seminário, pastores, missionários e presbíteros, que são comprometidos com o ensino e pregação. Ele vai falar sobre a etimologia das palavras, o uso atual delas, o uso de palavras sinônimas, vai ensinar a compreender as palavras dentro do seu contexto, vai explicar como o intérprete pode encontrar auxílios internos para explicação de palavras, o escritor ainda vai explicar sobre o uso figurado das palavras – ele destaca o uso frequente de metáforas, sinédoques e metonímias –, vai escrever sobre auxílios internos para se determinar se o sentido pretendido é o figurado ou literal, vai oferecer princípios úteis na interpretação da linguagem figurada da Bíblia. Ainda na unidade 5, o autor explana sobre a interpretação do pensamento e fornece auxílios internos para essa interpretação e auxílios externos para a interpretação gramatical, finalizando esta seção da obra.

A penúltima unidade é reservada para a Interpretação Histórica, que muito me empolgou. Embora tenhamos consciência que a interpretação histórica deve vir junto à gramatical, para o meu nível teológico foi mais interessante essa seção. Já nos parágrafos iniciais, Berkhof enfatiza que nem tudo o que está escrito na Bíblia é passível de ser explicado historicamente, mas a interpretação da história, quando possível, fornece poderosa ajuda na interpretação dos textos sagrados. O autor vai explicando como identificar a história do texto fazendo o intérprete observar melhor o tempo, o espaço, as circunstâncias, a visão de mundo do autor e até mesmo a visão de mundo das pessoas a quem os textos eram originalmente escritos. O livro ressalta a importância de se descobrir as características pessoais do autor e/ou narrador da história e as circunstâncias sociais do autor – localização geográfica, questões políticas, clima, circunstâncias religiosas. O escritor vai oferecer auxílios externos e internos para interpretação histórica – e onde encontrá-los.

Por fim, Louis Berkhof escreve sobre a Interpretação Teológica dos textos bíblicos. Ele começa descrevendo o significado de “fator místico” das Escrituras e o motivo de elas não poderem ser interpretadas como um livro qualquer. Fala da relação entre o Antigo e Novo Testamentos, o significado dos diferentes livros no todo da Escritura, a interpretação simbólica e tipológica da Escritura, ele fala especialmente sobre a interpretação das profecias e destaca a interpretação dos Salmos. Ele termina sua obra discorrendo sobre elementos para interpretação teológica como os paralelos reais ou de ideias e encerra falando sobre analogia da fé ou da Escritura.

Vale destacar aqui o prefácio curto e objetivo escrito pelos editores: “Muito da confusão atual na área da religião e na aplicação dos princípios bíblicos vem da interpretação distorcida e da má compreensão da Palavra de Deus. Isso acontece até mesmo em círculos que defendem a infabilidade das Escrituras. Estamos convencidos de que a adoção e o uso dos princípios sadios de interpretação no estudo da Bíblia darão frutos surpreendentes. Cremos que esse é um meio que o Espírito da verdade se agrada em usar ao conduzir seu povo em toda a verdade. É com isso em mente que oferecemos este livro para orientação individual no estudo das Escrituras e, particularmente, para o uso em seminários e institutos bíblicos”.

Ficha técnica

Obra: Princípios de Interpretação Bíblica – para orientação no estudo das Escrituras e para uso em seminários e institutos bíblicos

Autor: Louis Berkhof

Editora: Cultura Cristã

Páginas: 144

Ano: 2008 (terceira edição)

Preço na editora: A 5ª edição (2022) está por R$ 31,92. A capa está mais moderna!






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