Publicada pela primeira vez na revista mensal “Diário de
um escritor”, em 1876, “A Dócil” relata o conturbado casamento entre uma jovem
de 16 anos e o dono de casa de penhores na faixa de seus 40 anos. Considerada
uma pobre moça, necessitada de tudo, a “dócil” mostra que toda doçura tem seu
lado cruel e, ao mesmo tempo, inocente. Sem saber o real motivo de seu
suicídio, o marido se torna refém de seus questionamentos sobre o que a levou à
morte e acaba tendo algumas conclusões pela lembrança do olhar dela em
determinadas conversas.
A vontade de saber se a esposa o amava o não, se o
desprezava ou não, se tudo era uma mentira ou não. Ele estava lá, parado, na
frente do corpo da mulher que ele adorava quase que com veneração. Aquela
mulher amável que chegou a apontar um revólver para sua cabeça enquanto dormia.
Por quê? Havia um por quê? Gestos, olhares, situações, tudo o que há de mais
corriqueiro Dostoiévski leva em consideração na história de seus personagens.
Detalhes dos pensamentos, das dúvidas, o contraditório humano e suas
necessidades mais íntimas.
Já em “O Sonho de um homem ridículo”, publicado pela primeira vez em 1877, o escritor russo
expõe a decadência da Humanidade. O homem que se considera ridículo por ele
mesmo e pela sociedade teve um sonho em que depois da morte iria para um lugar onde
encontrou pessoas que amavam por amar, viviam por viver e eram felizes. Até que
algum fator externo, que o sonhador considera ele próprio, corrompe esses seres
imaculados que passam a desejar o melhor para si próprios e não mais para o
próximo. A sociedade decadente envolta pelo egoísmo, egocentrismo e pela falta
de amor é tema desta narrativa.
As duas novelas expõem um escritor mais maduro, seguro do
comportamento sempre contraditório de seus personagens, que brinca com maestria
com a personalidade humana, como o grande mestre da psicanálise ficcional.
Título: Duas narrativas fantásticas: A Dócil e o Sonho de um homem
ridículo
Autor: Fiódor Dostoiévski
Gênero: Ficção russa
Editora: Editora 34
Páginas: 128
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