Política segundo a Bíblia

Resolvi fazer um estudo sobre o primeiro capítulo do livro "Política segundo a Bíblia - Princípios que todo cristão deve conhecer", do autor Wayne Grudem. O livro, editado pela Vida Nova, é apenas uma pequena parte do livro original publicado nos Estados Unidos. Como a obra é muito voltada para os problemas de lá, a editora brasileira resolveu traduzir apenas 4 capítulos da gigante obra. Esse esboço aqui é interessante para quem deseja estudar o livro - não apenas ler - ou discursar sobre ele. Em hipótese alguma substitui a leitura da obra. Além desse conteúdo aqui, há mais três interessantes capítulos no livro. Para o cristão brasileiro que é inclinado para a questão política, é de fundamental importância ler a obra de Grudem. Boa leitura!


CRISTIANISMO E GOVERNO (1)

O teólogo Wayne Grudem inicia seu livro “Política segundo a Bíblia” discorrendo sobre cinco visões equivocadas a respeito de Cristianismo e governo. A primeira visão errada é acreditar que o governo deve impor a religião. Concordo com ele quando afirma que impor a religião é incompatível com os ensinamentos de Cristo e com a própria natureza da fé. Ele aponta sete motivos para ser contra a imposição da fé:

1. <Jesus fez distinção entre o reino de Deus e o de César>.  
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt. 22.20,21). Conforme Grudem, “trata-se de uma declaração notável, pois Jesus mostra que devem existir dois âmbitos distintos de influência, um para o governo, outro para a vida religiosa do povo de Deus” (p. 28). Ali, Cristo fazia distinção entre a era cristã e a era do Antigo Testamento, quando os judeus viviam debaixo de uma teocracia. Naquela época, a nação inteira era considerada “povo de Deus” e todos eram obrigados a adorar a Deus e participar das cerimônias. As leis de Israel abrangiam questões seculares e religiosas. Cristo mostra agora que o “que é de Deus” não deve estar sob o controle do governo civil. Igreja não deve controlar o Estado, bem como o Estado não deve controlar a Igreja (ainda não cheguei ao ponto da “influência”. Influência cristã no governo é algo benéfico, o que é diferente do controle do governo pela Igreja).

2. <Jesus nunca tentou obrigar as pessoas a crer nele>. Jesus repreendeu seus discípulos quando quiseram castigar de imediato aqueles que o rejeitaram; quando Tiago e João perguntaram a ele se podiam pedir para descer fogo do céu sobre os incrédulos (Lc. 9.52-54). Jesus recusa tentativas de obrigar as pessoas a crerem nele.

3. <Não há como impor a fé autêntica>. Jesus e os apóstolos ensinavam, procurando convencer as pessoas a crerem no evangelho, fazendo apelos sobre arrependimento de pecados (Mt. 11.28-30; At. 28.23; Rm. 10.9,10; Ap. 22.17). Para que a fé seja autêntica, não pode ser imposta à força. Grudem acredita que os cristãos não devem participar de tentativas do governo de usar seu poder para obrigar as pessoas a apoiar ou seguir o cristianismo ou qualquer outra religião (p. 30).

4. <O reino de Cristo não é deste mundo>. O objetivo de Jesus nunca foi estabelecer um reino terreno como o Império Romano da época. Isso não significa que o reino de Deus não deva influenciar ou não influencie o mundo. “Na verdade, ele transforma e vence o mundo (1Jo.3.8; 5.4,5), mas o faz ao mudar o coração das pessoas e suas convicções mais profundas” (p.31). O poder do governo jamais deve ser usado para impor determinada crença religiosa.

5. <Implicações práticas de rejeitar a visão de impor a religião>. O governo deve garantir liberdade religiosa para os seguidores de todas as religiões dentro da nação. (Neste ponto aqui eu discordo em certo nível. Qualquer religião que tente destruir a liberdade de outras pessoas, ainda que sejam das suas próprias famílias, realizando castrações femininas, humilhando mulheres, chicoteando mulheres em público por uso errado de véu, propondo casamento de crianças e adolescentes, devem ter um certo tipo de limite). Grudem destaca que os cristãos que querem ter influência no governo devem ser os primeiros a defender a liberdade religiosa.

6. <E quanto aos benefícios fiscais oferecidos às igrejas?> O teólogo é favorável, desde que todas as organizações religiosas, independentemente de serem cristãs, tenham benefícios iguais. “Essas isenções fiscais oferecidas a igrejas e instituições beneficentes se baseiam na decisão da sociedade de que organizações desse tipo contribuem de modo considerável para o bem da sociedade como um todo” (p. 34).

7. <A influência espiritual por trás da visão de impor a religião>. Grudem argumenta que ao impor a religião, há a tendência de destruição da verdadeira fé cristã. Obrigar as pessoas a seguir uma fé não cristã resulta em perseguição aos cristãos. Obrigar as pessoas a seguir a fé cristã resulta em falsos cristãos, fazendo com que até as igrejas sejam administradas por falsos fiéis. O teólogo lembra que essa é uma influência inteiramente contrária ao ensino bíblico e à fé cristã autêntica. “É uma influência que procura destruir o cristianismo” (p. 35).


 CRISTIANISMO E GOVERNO (2)

Depois de discorrer sobre o erro de acreditar que o governo deve impor a religião, Wayne Grudem expõe a segunda visão equivocada a respeito de Cristianismo e governo. Agora ele afirma que excluir totalmente a religião do governo é um equívoco. Ele elenca oito argumentos (aqui escrevi sete, já que um deles é muito voltado para o púbico norte-americano) contra esse pensamento:

1. <A visão de excluir a religião do governo é equivocada porque não faz distinção entre os motivos para uma lei e o conteúdo da lei>. A exemplo da Constituição norte-americana, havia vários motivos religiosos no momento da sua concepção, mas as leis americanas não estabelecem uma religião. Em todas as religiões acredita-se que não se deve matar, e leis contra o homicídio não estabelecem uma religião, eis mais um exemplo. A campanha para a abolição da escravatura nos EUA, outro exemplo, foi realizada por muitos cristãos com base em convicções religiosas, mas a abolição não estabelece uma religião.

Grudem falando sobre movimentos que pretendem até excluir orações em assembleias, formaturas, escolas, etc, acredita que se “argumentos em favor de excluir a religião tiverem sucesso nos tribunais [como já está tendo, especialmente nos EUA], é possível que, em breve, eles sejam aplicados contra evangélicos e católicos que apresentem uma argumentação ‘religiosa’ contrária ao aborto. [...] E, por meio desse raciocínio, todos os votos de cidadãos religiosos a respeito de praticamente qualquer questão poderão ser anulados por decreto do tribunal!” (p. 39).

2.<A visão de excluir a religião do governo é equivocada porque desconsidera a vontade do povo>. Aqui ele cita o exemplo do que ocorreu no Colorado, quando 52% dos cidadãos votaram contra o casamento homossexual e a votação foi anulada pela Suprema Corte que alegou, pasme, que o ponto de vista religioso de 52% dos cidadãos não tinha “uma ligação racional com os interesses legítimos do Estado”. Pois bem, os religiosos estão sendo vistos, por tribunais (superiores) como “irracionais” por terem sido influenciados – a vida toda – por uma cosmovisão cristã bíblica. Os votos deles não valeram nada para o governo.

3. <A visão de excluir a religião do governo é equivocada porque transforma liberdade religiosa em ausência de religião>. Aqui, o teólogo toma como base a Constituição norte-americana e a Primeira Emenda dela para explicar que usar motivos religiosos para apoiar uma lei secular não é o mesmo que estabelecer uma religião. A liberdade religiosa defendida na lei diz respeito à isenção de apoio governamental para determinada religião ou denominação, e não na ausência da religião nas leis.

4. <A visão de excluir a religião do governo é equivocada porque restringe indevidamente a liberdade religiosa e a liberdade de expressão>. Se a nação preza, legalmente, pela ampla liberdade religiosa, ela não pode negar aos religiosos o direito que eles têm de fazer orações onde quer que seja, em ambientes públicos ou privados. Não pode negar o direito deles de lerem seus livros religiosos nem restringir o direito que eles têm de falar [liberdade de expressão] sobre o que eles pensam a respeito de qualquer coisa baseados em sua cosmovisão religiosa. Nesse ponto, Grudem questiona: “Por que os cidadãos cristãos [por exemplo] não podem ter liberdade de fazer campanha a favor ou contra determinada lei com base em suas convicções morais, derivadas de sua fé religiosa? Expressar uma opinião religiosa em público não é o mesmo que obrigar as pessoas a aceitar esse ponto de vista!” (p.42). “Em uma sociedade livre, as pessoas devem ter espaço para basear suas convicções políticas em qualquer processo de raciocínio e em qualquer autoridade que lhes pareça melhor; assim como devem ter liberdade de tentar persuadir outros de que seu raciocínio está correto” (p.43). Exatamente!

5.< A visão de excluir a religião do governo é equivocada porque afasta do governo os ensinamentos de Deus a respeito do bem e do mal>. “A Bíblia afirma que os governantes são ‘enviados para punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem’ (1Pd. 2.14), mas como podem fazer isso se não é permitido a porta-vozes de religião alguma lhes dar conselhos a respeito do ‘bem’ e do ‘mal’?” (p.44), questiona o escritor. Ele afirma ainda que essa visão de excluir a religião do governo deve partir do pressuposto que Deus não existe ou que não temos como saber quais são os padrões morais dEle.

6. < Exemplos bíblicos em que o povo de Deus aconselhou governantes>. Há vários exemplos bíblicos que mostram como servos do Senhor aconselharam líderes de nações pagãs. Um dos exemplos foi o profeta Daniel, que aconselhou Nabucodonosor. João Batista repreendeu Herodes, Paulo discutiu com o governador Felix. Esses três servos do Senhor falaram “na cara” dos líderes que eles precisavam de arrepender de seus pecados. Isaías também repreendeu líderes, os profetas Jeremias, Ezequiel, Amós, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque e Sofonias também assim o fizeram. Portanto, a Bíblia não corrobora com a ideia de excluir a religião do governo.

7.<A base espiritual para a visão de excluir a religião do governo>. A visão de excluir totalmente a religião do governo tem como objetivo destruir qualquer percepção da necessidade de se prestar contas a Deus. Um exemplo disso, no Brasil, é a quantidade absurda de políticos e agentes públicos que não se importam em prevaricar o serviço e furtar dinheiro público. Quanto menos se fala nos padrões morais de Deus, mais as instituições se tornam seculares e a distinção entre o bem e o mal se acaba. Além disso, o fato de o governo influenciar demais o povo, o fato dele retirar qualquer menção a Deus no ensino educacional no setor público, vai levando essa aceleração de pensamento contra o “prestar contas a Deus” na mente da população.

A verdade é que, concordando com o teólogo, todos os padrões morais absolutos se baseiam, de alguma forma, em convicções religiosas e na percepção moral de prestar contas a Deus. Essa tendência de excluir a religião do governo pretende destruir o entendimento de valores morais, a diferença entre o certo e o errado e, por fim, levar à destruição da sociedade.

 

CRISTIANISMO E GOVERNO (3)

Para Grudem, a terceira visão equivocada a respeito de Cristianismo e governo é acreditar que todos os governos são perversos e demoníacos. Essa teoria tem sido difundida por um autor chamado Greg Boyd, do estado de Minnesota. Ele acredita que todos os governos são administrados, no fim das contas, por satanás. Ele prefere acreditar numa mentira proferida pelo pai da mentira, durante a tentação de Jesus no deserto (Lucas 4.6), do que no restante das Escrituras.

1. <O equívoco de se fundamentar em Lucas 4.6>. Jesus nos instruiu a não acreditar no diabo. “...não se firmou na verdade, pois nele não há verdade. Quando ele mente, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). Durante a tentação, em seu jejum, a passagem mostra que satanás queria que Cristo acreditasse numa mentira, a que todos os reinos eram governados por ele. No entanto, “O Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens” é uma verdade descrita em Daniel 4.17. Romanos 13, do 1 ao 6 vai discorrer sobre como os governos são usados por Deus para conter o mal. Pedro, em sua primeira carta, 2.13,14 também fala sobre a sujeição dos cristãos às autoridades governamentais, pois elas punem o mal o honram os que fazem o bem. “Satanás quer nos levar a crer que todo governo civil está sob seu controle, mas não é isso que a Bíblia ensina em parte alguma”, afirma Grudem acertadamente.

2. <Mas em que passagens Jesus ensina a usar a força?>. O teólogo lembra que Jesus é o Cristo, o Deus vivo encarnado e, portanto, ele sempre esteve na história da redenção, e mesmo antes dos seres humanos existirem. Ele está por todo o Antigo Testamento, em toda a Antiga Aliança. Wayne Grudem nos recorda que o ensino bíblico sobre governo civil se encontra em Gênesis 9.5,6, nas narrativas históricas e leis de Êxodo a Deuteronômio e em Juízes a 2ºCrônicas, bem como em Romanos 13 e 1Pedro 2.13,14. Quando Boyd pergunta: “Em que ocasiões Jesus agiu ou falou desse modo?”, a resposta é: “Toda a Bíblia é investida da autoridade de Deus e da autoridade de Jesus Cristo, e nossa postura em relação ao governo deve basear-se no ensino de toda a Bíblia” (p.50). [Lucas 22.36-38 Jesus parece autorizar o uso da espada em defesa própria e para proteger-se de ladrões].

3. <Corroboração na mitologia grega>. Boyd se baseia em Homero e na mitologia grega para chegar à conclusão que todo governo é demoníaco. “Homero também tinha razão quanto aos deuses [...]. Nossas paixões tribais, territoriais e ideológicas têm uma dimensão demoníaca [...]. Do ponto de vista das Escrituras, esses deuses caídos estão por trás do conflito entre nações e envolvidos nele. Enquanto isso, Satanás, o único deus com poder supremo sobre esta era, assiste à matança com deleite demoníaco”, são palavras de Boyd em seu livro. Inacreditável se acreditar na falácia de Homero e não crer na Bíblia quando se fala sobre uma questão essencialmente bíblica!

4. <Essa ideia cria uma equivalência moral entre bons e maus governos>. Boyd chega a comparar Hitler com os exércitos norte-americano e inglês quando estes atuaram para destruir o nazismo. Chegou a considerar a atuação do estado islâmico quando decapitou o civil americano com o exército que foi lá para destruir os terroristas. Boyd defende que ambos os lados estavam a serviço de satanás. Para Boyd, cometer atos terríveis e defender-se de atos terríveis é a mesma coisa, é algo demoníaco. Essa ideia é completamente contrária ao que é exposto em Romanos 13.4, quando diz que a autoridade civil é serva de Deus e agente de punição de ira contra quem pratica o mal.

5. <Boyd rejeita o “poder imposto” como algo “mundano”>. Para Boyd, o reino do mundo está sob diversos regimes, seja democrático, fascista, nazista, e demais regimes totalitários ou não. Todos, para ele, estão debaixo do poder de satanás. Ele acredita que todo poder civil, grupo de pessoas governando outras, é coordenado por satanás.

6. <Boyd afirma que os cristãos não devem lutar nem mesmo para defender sua esposa ou filhos ou seu país>. Wayne Grudem explica que “essa rejeição do poder que o governo exerce sobre outros leva Boyd a afirmar que a pessoa inteiramente conformada à imagem de Jesus Cristo não deve usar de violência física nem mesmo para se defender de um agressor que ‘ameace matar você, sua esposa ou seus filhos’” (p. 54).

7. <Deus instituiu tanto o evangelismo quando o poder do governo de refrear o mal>. Para Grudem, Boyd não faz distinção entre os conceitos de evangelismo e de governo civil. “Deus nos instruiu, sim, a refrear o mal por meio do poder da espada e do governo civil (como ensina Rm. 13.1-6). Se o poder do governo (por exemplo, um policial) não estiver presente em uma emergência em que alguém está sendo seriamente agredido, meu amor pela vítima deve me levar a usar de força física para evitar um mal ainda maior” (p.55), afirma Grudem, que segue posteriormente dizendo que seguiria as instruções de Neemias: “Lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e lutai por vossos irmãos, vossos filhos e filhas, vossas mulheres e vossas casas” (Ne. 4.14; cf. também Gn. 14.14-16, quando Abraão salva seu parente Ló, que havia sido levado com prisioneiro por um exército invasor)”.

“Boyd toma uma das formas pelas quais Deus refreia o mal neste mundo (transformar o coração por meio do evangelho de Cristo) e afirma que é a única maneira pela qual Deus refreia o mal (e, desse modo, desconsidera o papel valioso do governo civil). Ambos os meios são provenientes de Deus, ambos são bons e ambos devem ser usados pelos cristãos”, assegura Grudem (p.55).

O teólogo explica ainda que Boyd se confunde ao interpretar equivocadamente Mateus 5.39, sobre dar a outra face em quem te bater. Ali, Cristo fala sobre vingança pessoal, sobre não se vingar por um insulto ou um tapa humilhante no rosto, não tem na a ver com o governo civil. Romanos 13.3,4 fala de responsabilidade do governo civil, já Mateus 5.39 fala de consuta individual.

8. <Uma abordagem mais pacifista poderia ter acabado com a escravidão [no EUA] ou detido Hitler?>. A história mostra que tanto o mal da escravidão nos EUA quanto o mal de Hitler só foram destruídos pelo poder de força militar superior. “Essa é a tarefa da qual Deus incumbiu os governos quando ‘[trazem] a espada’ (Rm. 13.4)”. (p.57).

9. <Implicações mais graves da ideia de que todo governo é demoníaco>. Grudem afirma e mostra trechos bíblicos expondo que Deus aprova o uso do poder governamental contra malfeitores. O teólogo se preocupa com as ideias de Boyd porque quanto mais os cristãos acreditarem nessas mentiras, menos apoio terá o Exército contra inúmeras nações que sempre ameaçam atacar os Estados Unidos. Isso pode resultar também em mais hostilidade por parte dos terroristas islâmicos e de países historicamente inimigos políticos da nação, já que, pela lógica de Boyd, para mostra Cristo, ninguém deveria agir com força e violência contra inimigos, mesmo que estes viessem para nos destruir.

“Uma vez que a abordagem de Boyd não leva em consideração o modo estabelecido por Deus, ou seja, o uso do poder do Estado para refrear o mal, o resultado seria o crescimento desenfreado de crimes violentos em todas as comunidades”, alega Grudem (p. 58). Ele questiona: “Quem sairia ganhando se os cristãos fossem convencidos de que todo poder governamental contra o mal é errado e demoníaco? Em última análise, quem deseja tirar das mãos dos seguidores de Jesus Cristo todo uso de poder contra o mal? O próprio Satanás, pois ele não deseja que poder algum em favor do bem refreie sua atuação maligna no mundo” (p. 58).

 

CRISTIANISMO E GOVERNO (4)

Wayne Grudem acredita que a quarta visão equivocada a respeito de Cristianismo e governo é afirmar que a igreja deve se dedicar ao evangelismo e não deve se envolver com questões políticas. Nesse ponto, ele vai discordar bastante do pensamento de John MacArthur – e eu também.

1. <Uma visão muito restrita do evangelho e do reino de Deus>. O teólogo acredita que o evangelho é a boa-nova de Deus com respeito à vida como um todo. “...ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei” (Mt. 28. 19,20) inclui tudo o que ele ensinou, incluindo as epístolas, que chegaram até nós com autoridade divina. Jesus, além de perdoar pecados, curou enfermidades e, em alguns casos, alimentou as pessoas, importando-se tanto com o espiritual quanto com o físico. “Governos fazem uma grande diferença na obra de Deus na terra e devemos orar e trabalhar para que haja bons governos ao redor do mundo” (p.63).

2. < “O evangelho todo” inclui uma transformação da sociedade>. É claro que a única forma de uma pessoa ser realmente totalmente transformada é através da conversão, esta realizada pelo Espírito Santo através da pregação do evangelho, mas Jesus quer que isso resulte em famílias, bairros, cidades e nações transformados.

3. <Sobre quais partes da Bíblia a igreja não deve pregar?> Grudem questiona se as partes bíblicas sobre governo e política devem ser evitadas nas igrejas e não devem ser pregadas, como Romanos 13.1-7, 1Pedro 2.13,14, profecias de Isaías, etc.

4. <Deus deixa os cristãos na terra tanto para evangelizar quanto para fazer o bem aos outros>. “Por certo, se estamos aqui na terra para glorificar a Deus, nós o glorificaremos (pelo menos em parte) ao obedecermos ao seu mandamento: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Isso significa, porém, que devo me empenhar em favor do bem de meu próximo em todos os âmbitos da sociedade” (p.65).

5. <Deus instituiu tanto a igreja quanto o governo para refrear o mal>. “Deus também usa o governo civil para refrear o mal, e parte considerável do mal só pode ser refreada pelo poder do governo civil, pois sempre haverá muitos que não creem em Cristo como seu Salvador e muitos que não lhe obedecem plenamente” (p. 66).

6. <Cristãos têm exercido influência positiva sobre governos ao longo da história>. Leis contra o infanticídio e contra o abandono e o aborto no Império Romano, leis contra lutas de gladiadores, lei contra marcação a ferro no rosto de criminosos, separação de prisioneiros por gênero, fim do sacrifício humano entre povos, criação de leis de proteção às crianças e às mulheres, proibição de queimar vivas mulheres viúvas na Índia, etc. Carta Magna da Inglaterra, Constituição dos EUA e Declaração de Independência dos EUA, são os três principais documentos mundiais e que foram criados por cristãos sob forte influência de preceitos cristãos.

7. <A Bíblia não diz que logo haverá perseguição?> “A resposta é que não sabemos quando Cristo voltará nem quando ocorrerão os acontecimentos que antecedem sua vinda (Mt. 24.36; 25.13)” (p.71).

8. <O envolvimento político não nos distrai da tarefa principal de pregar o evangelho?>. Grudem defende que o ministério de toda a igreja inclui todos os dons de todos os indivíduos pertencentes a ela. Para ele, uma igreja saudável vai perceber que alguns membros são inclinados para os negócios, outros para área de saúde, bem como outros para a política.

 

CRISTIANISMO E GOVERNO (5)

Para Wayne Grudem, o quinto equívoco existente sobre Cristianismo e governo é quando se afirma que a igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. O que achei interessante nessa parte é que ele diz que lá nos Estados Unidos, ele desconhece qualquer líder sério que defenda essa ideia. No entanto, ele lembrou que essa era a principal ênfase do movimento do evangelho social, no final do século 19 e início do século 20. Eu fiquei chocada em saber que esse movimento é tão antigo assim, muito embora esteja em voga nos dias de hoje no Brasil.

Grudem explica que esse movimento trabalhava (e trabalha atualmente no Brasil) agressivamente para acabar com a pobreza, o favelamento, o crime, a discriminação racial e social e outros males sociais. Embora as causas fossem nobres, o movimento do evangelho social dava pouca ênfase à necessidade de a pessoa crer em Cristo como salvador e minimizava a importância de se falar sobre a Bíblia como Palavra de Deus e sobre arrependimento de pecados.

O teólogo destaca que esse movimento foi abraçado principalmente por protestantes liberais (que não creem na Bíblia como Palavra de Deus) e não pelos conservadores. Logo me veio à cabeça o nome de alguns líderes brasileiros influenciados especialmente pela TMI. Grudem destaca que se nós cristãos acreditarmos que apenas boas leis resolverão os problemas do país, estaremos caindo em um grande erro. Mudanças autênticas só ocorrerão quando os corações das pessoas forem transformados.





Ficha técnica

Obra: Política segundo a Bíblia - Princípios que todo cristão deve conhecer

Autora: Wayne Grudem

Editora: Vida Nova

Páginas: 192

Ano: 2014

Preço na editora: R$ 34,32


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