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Contentamento - Um estudo para mulheres de todas as idades


O contentamento pode parecer difícil. Com efeito, ele exige, acima de tudo, submissão a Deus, morrer para si, tomar a cruz e segui-lo. Em outras palavras, o contentamento vem quando vivemos uma vida cristã consistente e obediente, e isso é sempre desafiador. É algo fácil de compreender, mas às vezes muito difícil de se colocar em prática”. Essas palavras, contidas na página 97 do livro
Contentamento: Um estudo para mulheres de todas as idades resume bem toda a obra.

Escrito por Nancy Wilson, publicado pela editora Trinitas, o livro tem a pretensão de explicar ao público feminino cristão que o contentamento é algo inerente a quem confia em Deus e se diz crente no Senhor. A autora coloca o contentamento como algo prático da fé cristã, adquirido através de exercício diário de fé e amor a Deus. Ela é muito feliz ao nos lembrar de todas as lutas passadas pelo apóstolo Paulo que, mesmo em meio a fortes adversidades (2Coríntios 11.24-28), afirmou estar contente (Filipenses 4). Nancy também nos lembra que o Senhor é homem de dores (Isaías 53.3) e sabe o que é passar por aflições e, ainda assim, ter forças para permanecer contente.


É interessante que a escritora abre a obra falando sobre o descontentamento de Eva que a levou a pecar contra o Senhor. De fato, o pecado foi consumado primeiramente na mente de Eva antes de ser externado através do consumo do fruto proibido. Nancy afirma no livro que se pararmos para analisar bem, o descontentamento é a raiz de todos os pecados listados na Palavra de Deus. Ela cita as obras da carne (Gálatas 5.19-21) e eu, como leitora, passei a raciocinar conforme a autora e tive a seguinte concepção:

“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição [descontentamento com o trabalho honesto e com a atual situação financeira], impureza [descontentamento com a santidade], lascívia [descontentamento com os princípios de Deus para a sexualidade], idolatria [descontentamento com o próprio Ser de Deus], feitiçarias [descontentamento com o que Deus nos deixou revelado pela sua Palavra e pelas coisas criadas, incluindo o tempo], inimizades [descontentamento com o próximo], porfias [descontentamento em ver que as ideias do outro podem ser melhores que as nossas], ciúmes [descontentamento em entender que tudo pertence a Deus e nada é nosso], iras [descontentamento extremo com algo ou situação em que Deus nos colocou], discórdias [descontentamento com a opinião do outro], dissensões [descontentamento com a opinião do outro ao ponto de afastar-se do outro], facções [descontentamento com o próximo ao ponto de criar rivalidades em equipes], invejas [descontentamento com o que Deus deu ao próximo], bebedices [descontentamento com a vida que o Senhor deu e com o próprio Cristo], glutonarias [descontentamento com aquela porção de alimento que satisfaz a fome] e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”.

A autora lembra que Cristo encontrou contentamento na humildade e obediência a Deus. Ela afirma que se quisermos, de fato, encontrar contentamento e consequentemente paz, precisamos ser humildes no nosso modo de pensar. “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele” (1Tm. 6.5-7).

A obra nos lembra também que somos incentivados o tempo todo a cuidar das nossas mentes (Colossenses 3.1-2, Romanos 8.5-6, Filipenses 4.8) para não cairmos na armadilha da nossa “lixeira mental”. “Nossa mente vaga o dia todo e tem a tendência de ser facilmente levada para onde quer que seja. Mas, se deixados por conta própria, os pensamentos normalmente se afundam no lixo, escavando e desenterrando coisas carnais, coisas mundanas, mentiras, coisas de baixo nível, injustas, impuras, sem qualquer afeto, desagradáveis” (p. 50). Pura verdade! Nossa mente é uma lixeira ambulante que se não controlada bem, nos leva a todo tipo de coisas absurdas contrárias a Deus. O motivo é simples, nosso pecado original nos faz ir de mal a pior mentalmente e somente Cristo pode nos limpar desse turbilhão de maus pensamentos. “Pensar nas coisas do alto” (Colossenses 3) purifica nossas almas, aquieta nossos corações e nos traz contentamento.

Gostei da passagem em que ela fala que “se nosso contentamento é dependente de nossas circunstâncias, então ele está baseado em um fundamento bastante instável e incerto, porque as circunstâncias estão sujeitas a mudanças. Mas quando nosso contentamento repousa sobre a soberania e a bondade de Deus, aí sim ele está fundamentado em algo certo” (p. 79). Eu diria até mais: Se o nosso contentamento for Cristo, Criador de todas as coisas e da luz que ilumina todo o homem e que sustenta tudo o que existe, a busca pelo contentamento se torna mais real, mais fácil e mais sólida.

Aqui abaixo vou copiar uma citação que Nancy faz de Calvino (quando o teólogo estava discorrendo sobre o décimo mandamento), citação muito coerente com o contexto do livro dela: “Se os homens tivessem ouvido somente ‘Não matarás, nem adulterarás, nem roubarás’, eles poderiam presumir que suas responsabilidades foram completamente cumpridas através da mera observância externa da lei. Era indispensável, então, que Deus desse uma admoestação separada aos homens, a fim de que eles não só se abstivessem de fazer o mal, mas também obedecessem, com a afeição sincera do coração, ao que lhes foi previamente ordenado. Paulo conclui desse mandamento que toda a lei é espiritual (Rm. 7.4,14). Ele explica que Deus, por meio do Seu condenar a cobiça, mostrou de maneira suficiente que Ele não só impôs obediência em nossas mãos e pés, mas também colocou restrições em nossa mente, para que não desejássemos fazer aquilo que não é lícito”.

Em resumo, contentamento parece um tema fácil de se falar, mas muito difícil de se viver. Não podemos deixar que as circunstâncias da vida nos levem a ficarmos tão descontentes com o Criador ao ponto de passarmos a murmurar o tempo todo. Quanto ao livro como um todo, ele é básico. Para pessoas mais maduras na fé, pode parecer enfadonho, pois às vezes age como um tipo de autoajuda cristã. O tema, sem dúvida, é de extrema necessidade de ser levado ao debate, aos escritos, mas o livro, em si, é bem básico. Contém perguntas para fixação no final de cada capítulo.


Ficha técnica

Obra: Contentamento – Um estudo para mulheres de todas as idades

Autora: Nancy Wilson

Editora: Trinitas

Páginas: 110

Ano: 2017

Preço na editora: R$ 35,00

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