Estou completamente imersa na crise profissional dos 30
anos. Nesse período emocionalmente conturbadíssimo, tenho sempre me perguntando:
“O que estou fazendo da minha vida profissional?”. Foi nesse contexto de vida
que acabo de ler “Mulher, cristã e bem-sucedida: redefinindo biblicamente o
trabalho dentro e fora do lar”, das escritoras estadunidenses Carolyn McCulley
e Nora Shank. O livro foi um achado em meio a tantos outros durante a Primeira
Conferência Teológica Reformada do Pantanal. A editora Fiel, parceira do
evento, esteve presente com inúmeras publicações com descontos de 30%. A
conferência aconteceu exatamente no final de semana passado, nos dias 18 e 19
de outubro, na cidade onde atualmente moro, em Corumbá/MS.
Quando passei o olho pela mesa repleta de livros à venda,
a obra que aborda a história do trabalho, a teologia do trabalho e o ciclo de
vida do trabalho, chamou minha atenção. Completamente voltado ao público
cristão protestante feminino, o livro tem o cuidado de desmistificar algumas “paranoias”,
digamos assim, com relação ao trabalho feminino – seja ele remunerado ou não. A
obra foi muito feliz ao retratar as mulheres dos séculos passados, quando elas
trabalhavam junto ao marido e filhos no bom andamento das atividades do lar,
época em que a economia e os negócios giravam em torno das famílias e dos
lares.
Indo ainda mais além, as escritoras nos levam à época de
Jesus e mostram como algumas profissionais se destacaram por serem auxiliadoras
no trabalho evangelístico usando suas profissões para abençoar. Carolyn
McCulley nos lembra o conceito de vocação de Martinho Lutero e destaca que tanto
o homem quanto a mulher foram chamados pelo Senhor a servir, a trabalhar, seja
dentro ou fora do lar. A obra valoriza tanto a mulher que trabalha fora de casa
por necessidade ou escolha, quanto a que trabalha em casa cuidando da casa e
dos filhos ou fazendo isso e ainda trabalhando em casa para aumentar renda.
Independente de ser chefe ou empregada, a mulher cristã,
conforme o entendimento das autoras, precisa estar ciente de que Deus “usa o
nosso trabalho diário como um meio de transmitir graça a outras pessoas e
aprender mais sobre ele” (p.29). A ênfase em dizer e repetir não poucas vezes
que o trabalho nos é concedido para glorificarmos a Deus e não para nos
gloriarmos foi um “tapa na minha cara”. Somos impulsionadas de muitas formas a
trabalhar, seja por um elogio, pelo dinheiro, por prêmios, por um destaque, mas
a autora lembra que tudo isso é vaidade.
Toda caracterização feita de nós mesmas para nós mesmas vai passar, mas a
única coisa que nunca vai passar é que somos filhas de Deus. Essa
característica vamos ter até depois da morte e é ela a que mais importa.
Há um trecho bem interessante ainda na primeira parte do
livro, na página 108, quando as autoras defendem o apóstolo Paulo quando ele
diz que as mulheres não deveriam ser preguiçosas e tagarelas, falando o que não
deve. Segue:
“Paulo foi contracultural em sua visão das mulheres. Ele
encorajava as mulheres a serem produtivas em uma cultura que enaltecia o
prazer. Ele as promovia. Paulo confirmava as mulheres no trabalho que elas
faziam, como quem glorifica a Deus. Via o esforço das mulheres em seus lares –
quem sabe, pelo exemplo de Lídia – como uma refutação estratégica à calúnia do
Inimigo. Lídia foi uma mulher que usou tudo o que tinha – sua influência, seu
lar, seus relacionamentos, seu dinheiro, até mesmo seu trabalho – para promover
o avanço do evangelho. Talvez fosse isso que Paulo tinha em mente quando
instruiu Timóteo e Tito a aconselhar as mulheres a não serem tagarelas
preguiçosas e, em vez disso, voltarem a trabalhar, cuidando de suas casas”.
Para as autoras, Paulo defendia, na verdade, que todas as
mulheres fossem produtivas, pois isso era bom ao Senhor, bom à família e bom à
propagação do evangelho. A primeira parte do livro é encerrada com um tributo à
obra poética de Provérbios 31. Enquanto Lídia trabalhava fora de casa, a mulher
valorosa descrita pelo rei Salomão trabalhava incansavelmente em casa, não só
no cuidado com os filhos e marido, mas fazia negócios a partir do lar.
A segunda parte do livro, a “Teologia do Trabalho”, foi a
que mais falou comigo. De fato, Deus usou o livro para me esclarecer diversas
situações e me fazer enxergar a minha atual condição com outros olhos.
“Devido à queda, em nosso trabalho podemos ter momentos
de alegria por sermos portadores da imagem do Deus que trabalha até hoje, como
também momentos de dor e frustração. O bom propósito da produtividade
permanece, mas agora é um trabalho a ser realizado entre espinhos e cardos. O
pecado é o que torna o trabalho difícil” [...] “Subjugar os espinhos e cardos é
um trabalho árduo. O conceito de trabalho que surge da Escritura implica
intensidade, energia autêntica e espírito pioneiro. Quando Deus chamou homens e
mulheres a trabalhar, não era seu intento que as mulheres se assentassem à
margem, observando os homens suarem. Nós, mulheres, devemos sentir o peso do
trabalho que fomos chamadas a realizar” [...] “Esse chamado não é negociável.
As mulheres, como também os homens, são chamadas a trabalhar. O quarto
mandamento diz: ‘Seis dias trabalharás, mas no sétimo dia descansarás’ (Êxodo
34.21)”. (p.126 e 127).
As autoras também destacam como os reformadores cristãos,
em especial Lutero, lidavam com o conceito a respeito do trabalho e mostra como
o Protestantismo desmistificou a questão do trabalho secular e do trabalho
sagrado, pois, para Deus, todo o nosso trabalho é sagrado. Quando você ouvir
alguém separando os termos, essa pessoa precisa entender que todo o nosso
trabalho, seja na igreja ou fora, é sagrado para o Senhor porque o propósito
final dele é glorificar a Deus. Não existe vida secular e vida sagrada. Para o
cristão, tudo na vida dele é sagrado, inclusive o trabalho como empregado de
alguma empresa ou instituição pública ou como dono de um negócio.
O livro separa um capítulo somente para falar sobre a
importância do descanso e outro para falar sobre ambição. A obra mostra como
muitas vezes o contentamento é enfatizado em nossas rodas de conversa na
igreja, mas a ambição é negativada ou diminuída. Somos seres naturalmente
ambiciosos, isso é bom e normal, é o que nos leva a crescer e isso não é visto com
maus olhos por Deus. A ambição só é nociva quando a direcionamos para o nosso
ego e não para glorificar a Deus. A obra termina falando sobre o ciclo de vida
do trabalho até alcançarmos a fase do “ninho aberto”, quando já não há mais
filhos para cuidar ou já estamos aposentadas. As escritoras encerram lembrando
às mulheres cristãs o seguinte texto bíblico:
“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o
cedro no Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso
Deus. Na velhice darão ainda frutos,
serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o SENHOR é reto. Ele é
a minha rocha e nele não há injustiça”. (Salmos 92.12-15).
Até na velhice o Senhor estará conosco, nós daremos frutos
para anunciar que só Ele é o Senhor!
A leitura do livro marca meu retorno às leituras! Depois
de mais de um ano e meio, após gravidez, parto e bebê com pouco mais de um ano,
consegui finalmente voltar a ler. Uma grande vitória! :)
Ficha técnica
Obra: Mulher, cristã e
bem-sucedida: redefinindo biblicamente o trabalho dentro e fora do lar
Autor: Carolyn McCulley e
Nora Shank
Editora: Fiel
Páginas: 306
Ano: 2018
Preço na editora: R$ 52,92
Oi Caline! Olha, amei a resenha. Já tinha lido outros comentários sobre esse livro, mas o seu foi o mais sincero até agora. Adorei a parte do "tapa na minha cara" kkkkkkkkk
ResponderExcluirVou ler com certeza e volto aqui para comentar mais. Estarei acompanhando seu blog.
Bjs
cafeebonslivros.blog
Obrigada,Kelly! Vou acompanhar o seu também ;)
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