Por Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo* Se a obra do escritor francês Honoré Balzac consiste em um mosaico de pequenos mundos ao retratar as diversas camadas da sociedade, o russo Fiodor Dostoievski (1821-1881) mirou a intimidade e desvendou como nenhum outro a alma humana. “Dostoievski é tão grande”, escreveu o filósofo Nikolai Berdiaev, “que por si só basta para justificar a existência do povo russo.” Romancista-filósofo por excelência, ele talhou uma literatura que trata dos grandes problemas humanos, tornando-se o símbolo de um monumento à consciência. Antecipando Kafka e também tecendo a teia de toda uma literatura que passou por Machado de Assis e chegou a Albert Camus e Samuel Beckett, Dostoievski influenciou autores de todos os idiomas com obras como Crime e Castigo , O Idiota e Os Irmãos Karamazov. E não foi apenas nos romances que o russo disseminou imagens que projetam a desumanização do homem – também os textos curtos despontam...